segunda-feira, 20 de junho de 2016

[...]














A minha casa agora tem cheiro de gatos.
Resolvi, as quatro da madrugada, pegar as minhas
tintas e pintar a parede da sala
de vermelho,
a parede da cozinha de relógio,
e a varanda de bolo de cenoura.
Quero os cômodos
da minha infância e
o cheiro de café
que minha mãe fazia sempre
as oito da manhã.
Ah! esqueci de dizer sobre as cores do quarto...
neste cômodo vou jogar qualquer coisa,
só serve para dormir,
acordar e sentir o sol
arrebentar as cortinas
e tingir de amarelo
os meus dentes
em minhas manhãs
que se tornaram
mais velozes que a própria luz.
















[junior ferreira]

sábado, 18 de junho de 2016

[...]












Se esquecer fosse fácil
seriamos menos voláteis,
dispersos,
opostos,
teríamos um processador de dados no
lugar de um coração.
Seriamos, na verdade,
extremamente sortudos
por conseguir
dilacerar aquilo que
tanto causa
a tormenta do dia,
memória.
















[junior ferreira]

quinta-feira, 2 de junho de 2016

[...]














Só não se perdeu na metade, porque a metade não existe.
Só não viu o outro lado do Universo devido a assimetria.
E se ele não tem lados correspondentes, eu também não tenho,
você também não, ninguém tem.
A recíproca foi algo que se consumiu, desapareceu,
e o amor, ah o amor (quanta imaturidade falar sobre o amor)... Quantas vezes amamos sozinhos,
acreditamos sozinhos
e choramos por uma resposta que refletiria
tudo na mesma metade?

Bilhões e trilhões de vezes, eu respondo.
Se o amor fosse simétrico, não cairíamos
na efemeridade
de um buraco solitário
e escuro que
se acaba
na
singularidade
perplexa da não existência
de sua própria e verdadeira
dualidade.
















[junior ferreira]